quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Poema Bucólico II

Quando o vento bate brando
Em minha face despida
E a cachaça já não queima mais
Ao envolver o meu fígado
Da mesma forma inusitada
Como seu perfume
Envolve minhas narinas
Ou como o sentimento Cósmico
Que enlaçado nos movimentos
Involuntários do meu coração
Me faz vivo e apaixonado
Igual ao vento a beija
A relva nesse fim de tarde
Ou sua face ao anoitecer.

Diresende 10:05 17/09/09
TELEVISÃO

Do que vale escutar-la
se suas vozes são abafadas pelo medo,
são mórbidas de indiferença,
são aguilhoadas de mesquinhez
daqueles que perderam a utopia
e foram subjugados pela barbárie.

Ah, vozes que nada dizem
proveniente desse vidro coagido
ao afirmar a inércia
da bestialidade de que
é melhor ter do que ser.

Não hei de ti escutar
malevolentes vozes pós-modernas
pois minha consciência grita de dor,
os livros gritam de possibilidades,
o tempo grita de pressa,
os humildes gritam de revolta,
a vida grita de esperança.
Eu não hei de ti escutar
vozes vendidas
que afirmam o nada mudar.

Nesse espelho deplorável
me deparo despedaçado
vendo a intrínseca contradição:
Conformismo e Inquietação,
Alienação e Protesto,
Crise e Abundancia,
Riqueza e Miséria,
Descontentamento e Carnaval,
Nesse emaranhado mercadológico de monodiversidade.

Ver?!!!
O que vejo para além dessa tela LCD
é a pura dialética.
Salve a contradição da contradição
que desencadeia as mudanças.
Sendo que toda mudança é sentida
no bojo social.

O que sinto
não vem desse hibrido simulacro
a serviço do capital
de sinais eletromagnéticos
reluzente como ouro de tolo
e asquerosa libidinagem.

Sinto agora
de forma indelével
toda indignação crescente e viva
no inconsciente coletivo.
A revolução esta cada vez
mais próxima e em todo canto
como em outrora foi profetizada
pelo barbudo alemão.
Estou certo que ela não será
Vermelha ou verde,
Branca ou Negra,
mas Multicolorida
e anunciada na TV.


Daniel Andrade Resende
13/09/09
TRANSPONHA AS ÁGUAS

Transponha as água
e matará o rio.
Mas nunca iram transpor o meu amor.

Eis que o rio que integra será o rio da guerra.
O vaticínio está lançada
pois as águas não caíram das nuvens
sem desastre ou morte.
E por mais que as salinas águas
matem os peixes e minha alma
queime em flâmulas de revolta
meu amor pelo velho nunca será transposto.

Transponha o rio
e minha indignação se tornara
em exacerbado verdugo a conclama
as legiões de ribeirinhos
que como ferro na mão de Sansão
rachara as paredes do palácio da
Babilônia brasileira, das hidrelétricas
que castra a vida e de seus canais da morte que
produz miséria e escraviza o povo.

Se não morrer de fome, nem nas mãos dos homens
a demolição de projetos do lucro maligno
me motivara a lutar,
a viver,
a amar.
Mas nunca iram transpor o meu amor.

Pelas águas que bebi,
se não morrer de fome,
nem nas mãos dos homens, não
morrerei de sede!
Não morrerei de sede!
De sede não morrerei!

Transponha as águas
e verá que seu governo será diminuto e frágil
na ira do povo, que canta a veemência
de 508 anos de exploração e resistência.
Se o frei não morrer de fome, nem os índios nas
mãos dos homens
de sede eu não morrerei.

Transponha o rio
Dádiva para este povo
acostumado com a bonança de suas cheias e
os deixem na penumbra do cavalheiros do Apocalipse
e verás os humildes se levantarem como vespas em alvoroço.
Mas não iram transpor o meu amor.

As lagrimas que transbordam agora
dos que vem a convalescença
do Velho Chico
não o revitalizaram,
mas o nosso sangue sim.

Floresça a indignação!
Torne-se grande e expansiva feito chuva.
Que na terra haja tempestades
torrentes populares de filhos
que não foge a luta
nem teme a própria morte
e o relâmpago da voz que clama
por justiça se faça sentir
no âmago dessa pátria amada Brasil.

Pois enquanto o frei não morre de fome
nem os índios na mãos dos homens
de sede eu não morrerei.


Transponha as água
e matara o rio,
matara o frei.
matara os peixes,
matara os índios,
matara o povo.
Mas nunca matara o meu amor pelo Velho.


Diresende escrito em 22/08/09 23:36
(Declamado em 05/10/2009 na I Semana da Água em comemoração aos 508 anos do Rio São Francisco em Penedo- Alagoas)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

O PERFUME DA ROSA

Me faltam revolveis para
Acabar com este mal intrínseco e sórdido,
Não escuto o estampido distante
De disparo esvoaçado
Porque a ultima bala nunca existiu,
Porem foi certeira e longínqua
Na profundidade mais nevrálgica.
Nem toda cicuta do mundo sanaria
A dor que a perversa existência
Me fustiga a sentir agora.

Não sabia que a sinceridade
Era acrimônia e tinha o gosto de fel
E que fazia doer tanto. Ou será
Que não estou sendo sincero
Com os meus sentimentos?

Agora estou temeroso.
Uma onda de horror deságua
Na minha espinha dorsal
E se aloja na minha nuca.
O coração se fez em
Claustrofóbico aprisionando numa
Salita miúda e escura chamada
Desespero.

Estou certo que esta noite não,
Pois me falta revolveis e coragem
Contudo me sobra a angustia
Mais tenaz da alma depressiva,
Só porque esta noite
Deixastes de ser minha e
Como miragem nos olhos
de beduíno sedento, se desfez
na própria ótica.

Eu fui pra ti a mais lancinante
Quimera, que agora se transmuta
Em Cérbero que dos portões do inferno
Derrama seu putrefato bafo em
Suas lembranças malditas e
Despedaçadas desilusões.

Esbravejo ao lato:
- Me apunhalem!!!
- Me apunhalem, vis mortais!!!
Mas nada me acontece nesta noite
Pois Calisto já foi sacrificada.

Não há punhal, nem adaga e nem mão
Para apunhalar esta estúpida dor
Que deveras sente e que brota do amor
Essa flor roxa de amargura devassa.

Corte-me os dedos, a língua, as glândulas
Mas não me roube esta flor que
Em outrora era alva e pura, e que agora
Já sinto de forma contundente a sua falta.
O amor é este risco tenebroso de ter o que Não é seu e que sempre perdemos, sedo o Tarde, e nem todo o lamento do mundo
Fará revive-lo no presente.

Meu olfato audaz sente cheiro de rosas,
As rosas do sepulcro tem o seu perfume.

Diresende 14/08/2009 10:46

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Poema Bucólico

Serei como a chuva

que com suas gotículas

de sémen, sacia a vaidade

da terra de ser desejada

e ao penetrar em seu lânguido

ventre e coxa de pedra crispada

humedece seu espírito

com a génese da vida.

 

Di Resende

22/04/09 00:19

AONDE VAI?

a dona Jú

Aonde vai?

Vou ali...

Ali, é nunca está aqui

é multiplicar a presença propagando o bem

é rezar estando na igreja ou em qualquer lugar

é dar a comunhão sendo a comunhão

é visitar um velho senil, um moribundo

ou uma criança

é celebrar a vida na família de outrem

deixando a sua em casa a espera.

-Calma, calma mais tarde volto.

é inquietar os vizinhos

-Por que não para em casa?

-Parar pra quê, se a vida é...

um eterno ir e vim,

é mobilidade, impulso, contingência

é dialético sopro divino.

Aonde vai?

Vou camuflar meus problemas

se preocupando com os problemas alheios

Lembre-se seu coração é grande

mas não acaba com a miséria do mundo.

Mas irei...!

Aonde vai?

Vou trilhar o caminho da bem-aventurança

sendo o próprio caminho.

Ir...

Verbo anómalo de extraordinária irregularidade.

Ir...

é o ficar, sabemos que estou preste a sair,

a viajar,

a caminhar.

Voltarei ao anoitecer para descansar.

Mas ficai sabemos que bate minhas pernas

no compasso rítmico dos corações aflitos,

chorarei as dores alheias

da mesma forma que estarei com um sorriso

sincero a todos que me receberem,

reconhecendo nos filhos que não são seus

os seus próprios filhos

cantarei sem saber cantar

no trajeto a ir ou a retornar

ou no meu não voltar que fica.

E que as pernas franzinas na se cansem

nem doam, nem se estropie

nos caminhos tortuosos da vida

pois a vida e tortuoso e íngreme,

E se lhe perguntarem para onde vai?

Diga apenas:

Vou para não ficar.

Com isso, que as palavras sejam afirmação,

que o desejo de viver lateje insensatamente

na vontade de vim a ser,

que a casa nunca seja prisão

que se desprenda todas amarras e correntes

e se despedace todos os espinhos e pedregulhos

por onde suas frágeis pernas prolongarem

seu quase 70 anos de caminho

nesse espaço de muitas ausências e de iguais lembranças.

Diresende 04/02/09

sábado, 3 de janeiro de 2009

DUALISMO SOCIAL

Ricos tão ricos
Ricos mais ricos
Ricos são poucos e querem riquezas
Ricos nem sempre são ricos
Ricos no luxo da penúria do mundo
Ricos opulentos e fedorentos
Ricos concentram riquezas com o aumento da pobreza.
Riquezas desnudas são sujas, repugnantes e moribundas.

Pobreza crescente por toda parte se estende.
Pobres mais pobres
Pobre que pobres
Pobres tão muitos
Pobres são mudos que gritam na latência
Pobres estão exclusos do direito a vida
Pobres tem fome
Pobres famintos e maltrapilhos.
Pobreza não é egocêntrica nem excêntrica
Miserabilidade é epidêmica.

(Di Resende 27/08/2008 01:30)

Concupiscência

Se não há prazer não há vida.
Quero viver como homem
amar como homem
ser limitado como homem
mas não quero ser escravo
nem deus de uma seita dogmática.

Não quero ser castrado, esterilizado ou circuncidado
perder meu prepúcio por achar que é pecado
viver do desejo ao hedonismo
mastigar e cuspir injurias de libido
do fluxo e influxo regozijar
com o simples prazer de ter um invólucro
no meu falo e na sua vagina
sulco aquoso e escuro de satisfação
dos seios embebidos em doce saliva e suor salgado
da transpiração gemidos
em meio a dança dos corpos celestes
no dorso da terra a gota que humedece o existir
fazendo germinar o homem dentro de mim
e que estagnam os últimos convalescestes
e humilham os orgulhosos.

Torna-me homem de pelos pubianos e cheiro de cio
Num elo sincrônico de fecundidade viril.
É a ereção que me faz homem virtuoso
e te faz mulher violentada, extasiada, amada;
simples fervilhar de sangue em minhas artérias
mordida na nunca lambida na orelha
a anárquica luxuria me consome, lhe consome
mas tudo é revelado na intrínseca ejaculação
de múltiplos gozos indeléveis
e de arrebatadora realização.

(DiResende 03/08/2008 08:42)

Lembrança de um quarto nauseabundo

A ansiedade me deixara trepido,
o coração estava mais irrequieto
que asa de beija-flor na primavera.

Eu disse que queria falar contigo
e você disse que só poderia falar comigo ao meio dia
no intervalo de seu labor na padaria.

Estou aflito a esperá-la
nesse cubículo pequeno de paredes caiadas
que por ventura comportava no telhado
os restos mortais de um rato
que impregnava o ar com um odor suave de carniça.

Com quinze minutos de atraso
escuto sua voz no portão da frente
que me faz ficar atónico;
tudo que imaginara a dizer com pompas e galanteios
a ansiedade de tua presença me fez
facilmente esquecer.
Não sabia eu, que o amor inebriante
transmutava simples mortais
em onipotentes deuses do Olimpo,
quantas vezes a tive nos braços para
provar de sua voluptuosa humanidade
e agora ela se apresentava tão imperativa
na sua farda de trabalho,
irradiando todo o meu diminuto mundo de gnomo.

Iniciei falando de Otelo, O Mouro de Veneza,
aquele livro que lhe dei de presente de aniversário.
Eu próprio me tornara tão ingênuo quanto Otelo
a titubear antes da execução,
a me arrepender amargamente de ter
sacrificado um amor por ingenuidade.

No ímpeto te beijei
e você afavelmente aceitou meu beijo,
seus lábios macios como plumas angelicais
e seu toque místico em meu cachaço,
você cheirava a pão, tinha o gosto salutar de pão
e que poder transcendental o beijo tem...
pacificou meu espírito. E aquela força impetuosa
que me abrasava por dentro
foi facilmente domada por seus acalentos
transmutando-se em calmo rio a verter libidinosamente.
Um único beijo transformara um louco diabo
em cordeirinho na relva num bucólico fim de tarde,
A parti de então entendi toda apologia que
os românticos fizera ao ato de beijar, depois
você comentou sobre o fedor daquele quarto
mas, eu estava extasiado.
E aquele reencontro que foi o mais sublime e fugaz
foi o adeus inesperado que já se esperava.
Três meses depois tu estavas noiva com um holandês,
oito meses depois tinha casado com um baiano.
E eu, depois de dois anos,
correndo pelo crepúsculo
ao passar por um carcaça a beira estrada
e sentir o cheiro acre de podre
me lembrei de ti naquele quarto.

(Di Resende 19/06/2008 29:25)

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Poeta sem papel retalia-se a carne

Transpassa-me a inspiração
mas onde estão os papeis
passivos a serem escritos?
Em vão procurei desesperadamente por eles
e a guisar não os encontrei.
Tenho apenas um lápis
e uma parede áspera
impossível de ser grafada.

Mas algo me leva a escrever.
E escrevei...!
Nem que seja na minha epiderme
com rubro sangue das virgem martirizadas.
E nela, por mas que não se veja
a minha tosca caligrafia,
sempre estará camuflada
na profundidade sensível da carne
a imagem estigmatizada
de teus cabelos sedosos e escuros,
de teu olhar abrasador,
de teus lábios delicados e luxuriosos,
de teu tenro cheiro de flor.

Estais agora a repousar em minha pele morena
papel vivo e inexorável
porém, desde outrora habitastes
em minha gênese volátil.

(Di Resende 04/06/2008 21:10)

Dilacerou-se o sorriso em um mundo de tormentas.

Afasta-se de mim companheira indissociável do tempo de agora.
Afasta-se melancolia miserável!
Como é amargo o gosto da bílis,
a boca inviolavelmente ressecada, acrimónia e estéril
dela não desponta um sorriso sincero,
as salivas são engolidas como ásperos pedregulhos
que rasgam a goela, que de tão ferida, já não se sente à dor.
Abutres e víboras asquerosas me cercam tornando o existir nefasto.
Se a águia de Prometeu devorasse meu fígado morreria envenenada.
Ah, se eu vomitasse esse demônio escarlate que tenho dentro de mim.
Porventura me aliviaria
Ou quiçá, seria forçado a ver a cruel criatura fedorenta que padeci em mim?
E isso me afligiria contundentemente.
Resta-me ser um escaravelho enrijecido,
porém minha casca não me protege de nada
a não ser do meu sorriso.
Como teria de sorri se me falta o sadismo para alegrar-me com as tragédias alheias?
Tão pouco não consigo rir das minhas sôfregas e assíduas desilusões.
Como irei sorri se minha tragédia é Argos traiçoeira
gárgula da noite escura que me açoita no clarão do dia?
A deplorável bestialidade humana é virulenta
me decepciona, me fustiga, me dilacera ferrenhamente,
Foi essa ignóbil que me rasgou o sorriso do rosto e costurou na cara a aflição.
Queria uma adaga para estripar o mundo,
seria um famigerado homicida sanguinolento
sem motivos para rir
mas com o mínimo de dignidade para existir.
Nesse mundo de percevejos e sanguessugas
a morte não é o caminho nem o consolo
e a vida é estúpida.

(Di Resende, 07/05/2008 00:58)

Lembranças de Alguém

Na melancólica saudade
A linha tênue que se alonga
O tempo bom já se passou
E me entristece o existi
Por saber que o sofrimento se renova.
Mas lembro-me de ti
E dos momentos bons que estão por vim
E novamente volto a sorri
Por que sei indubitavelmente
Seu apreço por mim
Que reluta contra a distancia e o tempo
E das reminiscências teima em ressurgi.

(Di Resende 01/05/2005 11:04)

Sobre as limitações.

Aprenderas com o tempo ou não aprenderas.

Não se pode falar com as pedras,
Quando elas não lhe dão ouvidos.

Não se pode efervescer ardentemente contra o mundo,
Quando o mesmo tem artifícios devastadores e você apenas efêmeros fósforos.

Não se pode transmutar o real,
Quando suas idiossincráticas verdades transfiguraram-se em carpideiras do amanhecer.

Não se pode ter a dadivosa esperança,
Quando todos fazem neurastênicos barulhos desalentadores e só você escutar seu brando silêncio a esgueirar pela suas mãos.

Não se pode ser renovado pelo prazer,
Quando suas veemências são tidas como vãs, distantes e lacônicas.

Não se pode dar sentido a vida,
Quando a mesma desnuda-se de toda acepção, para ser contingência pura.

Não se pode viver a contingência pura,
Quando solapam a frustração da imaginação libertadora.

Não se pode entrega-se ao ocaso suicida,
Quando se é racional ou insano suficiente para tê-lo como lógica irrefutável.

Não se pode ser verdadeiramente humano,
Quando a ambígua razão se torna imperatriz da mente e do coração.

Não se pode ver a liberdade cabal,
Enquanto não se esvair o mercado, a burguesia e o proletariado.

Não se pode amar indefinivelmente,
Enquanto o amor não logra vitória sobre o supérfluo e mergulhar nos flancos profundos dos abismos da alma.

Não se pode ver a iminente justiça desnuda,
Enquanto sua ação caustica for ordenada por sua cegueira que não descrimina malfazejos de bem-aventurados, e sua piedade se equivaler ao principio da omissão; pois sua espada perdeu seu fio amolado e sua balança o equilíbrio.

Não se pode entender o mundo exuberante e lúbrico do poético,
Enquanto não se conhecer a onipotência arrebatadora e volúvel dos circunlóquios.

Aprenderas com o prato dos inocentes ou com o desvanecer etílico de seu devir, ou não aprenderas.

(Di Resende 23/04/2008 12:01)

O LUAR DOS OLHOS ROSE

Um labirinto de lírios fulgurantes
Resplandece no luar de teus olhos
Foi nele que fiz questão de me perder
Para ficar indefinivelmente
A vislumbrar tamanha beleza enigmática.

Em vão tentei-me introjectar
Nas janelas flamejantes de teu espírito
Sem saber que eles já me envolviam
Na sua flâmula aura lasciva.

Os livros me falaram dos cantos de seres mitológicos
Que enfeitiçavam os mais virtuosos dos homens,
Mas seus olhos estavam aquém dos cantos
E para além dos livros, de amores fingidos.
Suas retina douradas como mel ao sol
Não poderia ser simplesmente contidas
Em suas pálpebras relutantes
Nem em minha perplexidade pujante.

Tornava-me paulatinamente,
Um aventureiro a desbravar
As nuances de teu olhar;
Um ancião a contemplar
O crepúsculo de teu olhar;
Um amante a desfrutar
O gozo de teu olhar;
Uma criança a brincar
Nos prados de teu olhar;
Um místico a velar
O vaticínio do luar.

Quando vejo a lua lembro-me de teus olhos
Quando contemplo seus olhos reflete a densidade do luar.
Transfigura-se neles a deslumbrante e sedutora paisagem
Que transparece sua vontade de me beijar.
Não sois de falar, mas seus olhos dizem muito,
Até o que não deveria se revelar.
Ah, como quero seus olhos sempre perto a me iluminar,
Ah, como quero tê-la sempre por perto para te amar.

Tornava-me...
Um aventureiro a desbravar
As nuances de teu olhar;
Um ancião a contemplar
O crepúsculo de teu olhar;
Um amante a desfrutar
O gozo de teu olhar;
Uma criança a brincar
Nos prados de teu olhar;
Um místico a velar
O vaticínio do luar.

(Di Resende 31/04/2008 02:06)

CIDADE GRANDE


Milhões de habitantes
Urbanização desorganizada
Concentração de renda
Desigualdade Social
Degradação ambiental
Deterioração da vida
Das periferias urbanas
Precariedade na habitação
Esgotos nauseabundos
Falta transporte, saúde e educação
Lazer, sentimento e proteção.
Sobra favela, miséria e poluição
Alcoolismo, violência e exclusão
Liquidação, bate-boca, confusão
Morte, peste, desnutrição
Peito, bunda, prostituição
Alucinógenos, prazer, solidão
Desemprego, sapato furado, desilusão
Cheiro de medo, de combustível e putrefação.
Cavaleiros apocalípticos da globalização
Omissão sem rendição
Antagonismo sem revolução
Barbárie e civilização
No seio dessa moribunda superpopulação.

(Di Resende 25/03/2008 12:40)

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

DESVENTURA POÉTICA DA FORMIGA SOLITÁRIA

A formiga escala a parede branca como papel
O seu rastro escreve um caminho de aroma e solidão
Esta perdida na imensidão rasa do branco profundo
Que por mais que se caminhe
Não se chega a lugar nenhum
Não se mata a saudade
Não se escreve coisa alguma.
Mas persistentemente ela caminha a escrever
Um poema que nunca será lido ou sentido
No ziguezaguear de frenesi e excitação
Ela escreve suas metáforas como indicação
De uma vida que teima em ser vivida.
O formigueiro já está distante
Do mel já não senti o sabor
Da prole se desgarrou
Sem saber que jamais poderia se libertar.
As palpitações já não são constantes
Já não é constante o seu amor.
Oh ermo inseto, por que teimas em andar
Por um destino de dissabor?

No deserto dessa parede pálida e vertical
As frases são escritas ao longitudinal
Tu és um ponto preto de inquietação
Pra cima, pra baixo, pro lado, pro outro
Tudo é igual ao desgosto
De escrever sem inspiração.

(Di Resende 24/03/2008 00:40)

A ARTE É UMA BÚSSULA

A arte é uma bússola
Que aponta para os horizontes
De nosso imaginário,
Ou seja, para lugar nenhum.
No entanto, o importante
É que ela aponte
Para o homem
Quando ele se perder
Nos próprios paradoxos.

(Di Resende 17/03/2008)

ALIENAÇÃO

Eu não bebo,
A água negra me obriga a bebê-la.
Eu não sinto
Eu não fumo
Eu não decido
Eu não visto
Sou ludibriado e controlado.
Eu faço, mas não me faço
Eu escuto, mas não me escuto
Eu rezo, mas não sou louvado
Eu consumo e sou consumido
Sou livre para ser oprimido
Eu satisfaço outrem, mas sou eunuco.
Eu trabalho,
Eu construo,
Eu produzo,
Só que a obra não me pertence.
Eu não me pertenço!
Eu sou aquilo que quero ser
Subserviente as imposições alheias.

Eu tenho um valor incomensurável,
Mas sou mercadoria barata.
Para que lutar, relutar, revoltar, revolucionar
Se posso assistir TV e vê o visto.

Maldito seja o canto da serei
Feitiço dos novos tempos
Que coisificou o ser
E reificou a existência.

Eu não vivo,
A vida me obriga a vivê-la.


(Di Resende 06/03/08)

PEDRAS NO CAMINHO.

Drummond escreveu que tinha uma,
Logo digo que são duas

Duas Pedras

Enormes e intransponíveis,

Largadas no caminho

A vista de todos

Impossível não perceber sua opulência

Sutil e concreta,

Elas estão no caminho.

Uma sou eu

A outra é ela.

Sentimentos múltiplos fundidos na Ita.

Sentimentos iguais fracionados no Bi.

Se o sentido quem da sou eu

O significado quem detém é ela.

Eu e ela, duas pedras.

Pedras problemas,

Pedras angulares,

Simples Pedras,

Grandes pedras.

Se do encontro delas surgi à vida,

Também nasce a morte

Simplesmente paradas no caminho

Paradas, Paradas...

Paradas no caminho.


(Di Resende
18/02/2008)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O Neo Quixote Desiludido

Eu poderia ser um intrépido Che
Impregnando de vermelho
O verde de Sierra Maestra.
Eu poderia ser um austero Conselheiro
Subvertendo os sertões
Que se transmutaria em mar
Porém nunca deixaria de ser sertões.
Eu poderia ser um fanfarrão quixotesco de la Mancha
Que pelo menos, lutou com moinhos
E que amou ferrenhamente Dulcinéia.

Mas em Itabi...
Lugar sem serra, sem sertão, sem moinhos, sem amor
Eu sou apenas Daniel,
Sem sobrenome
Apenas o filho da Jú,
Sem armas nem ideologia suficiente
Para promover uma revolução
Nem me ludibriar com a paixão.
Resta-me a ultima fagulha de esperança
Porque a fé já se escamoteou.

(Di Resende 27/02/08, 04:06h)

SHEYLA (A VAMPIRA)

Na inesperada sofreguidão do encontro
Seus lânguidos lábios vorazes
E sua boca dadivosa
Reluziam seus dentes
Laqueados por afiadas laminas
Que violentaram meus lábios
E do meu sangue rubro
Sentias o gosto salutar
E na vampirosidade do instinto
Estava sedenta por prazer
Que na volúpia oral encarnou
Meu ser passivo a dominação
Ávido por ser seu
Necessitado de seus afagos
Carente de tua mucosa labial
Que ao se encontrar com a minha
Foi além das protuberâncias
Penetrando em meu espírito
Que contemplava extasiado
Toda beleza intangível
Que reside no ato de beija.

(DiResende 27/02/2008 03:21h)

UM POSTE TALVEZ...

Talvez eu seja um poste,
Rígido e ereto
Plantado no chão
Que me sustenta.
Indiferente as variações climatológicas
Sou sustentáculo e via
De todo tipo de fio
Que vem dos longínquos mais incógnitos
E que tem em mim sua passagem.
Simples fios,
Fios de watt de potência
Que iluminam e ofuscam,
Fios que falam
De uma realidade que não é a minha
Mas uma realidade latente e viva.
Concomitantemente sou fixo e passadiço,
Não poderia ser transitório
Se não estive cravado na massa
Informe e mórbida da esfera armilar.
Na minha extremidade tem uma luz
Que talvez ilumine os transeuntes,
Mas apenas talvez.
Talvez eu seja frio e tenaz
Carente de um sentimento
Que passa por mim
Mas não me habita.
Talvez eu seja apenas um Poste
Enrijecido, tíbio, insípido e triste.

( DiResende 17/02 /2008)